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Sempre. S e
m p r e que eu desejo escrever sobre alguma coisa boa, muito boa, as palavras
simplesmente me fogem. Porque será que a tristeza consegue escorrer pelos meus
dedos e a felicidade não? Seria ser feliz algo mais indescritível do que ser
triste? Não importa. Hoje eu vou escrever sobre essa alegria que invade meu
coração, com palavras certas ou palavras tortas. Eu vou escrever sobre como é
bom me pegar sorrindo e cantarolando sozinha depois de tanto tempo.
É tão bom ter a certeza de que eu sou minha,
só minha e não de quem quiser. É bom ter a certeza de que verei suas fotos ou
as nossas fotos e não sentirei vontade de escrever sobre a dor que me causaste.
É tão bom saber que posso me vestir com a tua camisa quantas vezes eu quiser e não
vou mais sentir teu cheiro. Agora eu sei que posso me esbarrar contigo ou até
mesmo ficarmos a sós... Eu não vou mais ter medo de mim.
Tantos anos
se passaram. Tantas cartas não foram entregues: cartas e cadernos inteiros... Quantas
fotos e textos escondidos para que eu não tivesse recaídas. Tantos porres e
cigarros, tantos sonos perdidos e tantos sóis eu vi nascer pensando onde tu estavas.
Tantas ligações recusadas, tanto medo de te encarar, tantas tentativas de te
fazer parar em vão. Tanta vida sem ser vida... Ah, se eu soubesse... Não teria
fugido tanto, não teria me maquiado tanto para esconder um sentimento que não
mais existia.
Foi quando
hoje eu tive a coragem. Hoje eu tive a coragem de te chamar, a coragem de te
atender. Eu tive a coragem de te abrir as portas e de te ouvir. Hoje eu quis mais
do que tudo saber como eu me sentiria. Hoje eu não tive medo de me machucar.
Hoje eu quis olhar nos teus olhos novamente, quis sentir meu coração acelerado
como tu costumava o deixar antes, quis saber das borboletas no estômago, quis
saber se ainda haveria dor na barriga...
A casa ainda cheirava a bebida e cigarro, vestígios
da vida desregrada que tu me deixaste como opção. Havia poucos móveis, quase
nenhuma bagunça. O banho rápido, os dedos como pedras de gelo, o coração quase
saindo pela boca e as pernas quase não se movendo de tão bambas. O interfone
tocou, hesitei por alguns segundos, mas disse o que precisava ser dito “pode
subir”.
Tu chegaste
e tinha o mesmo semblante de sempre, só que desta vez, envergonhado, o que é
raro de se observar em ti. Engraçado, não consegui achar o teu sorriso bonito como
antes. E o que foi aquela tentativa de abraço? Desculpe, eu tive que rir. Tentei
buscar nas minhas lembranças, qualquer coisa que te fizesse sentir mais a
vontade... Foi nessa hora que eu me dei conta de que não havia mais nenhum dos
pedaços que tu deixaste dentro de mim. Também não me lembro de quando consegui
tirar tudo, mas agora eu sei que os tirei. E mais do que isso, eu não sei onde os
coloquei...
Fiquei ali
ouvindo as tuas histórias e me negando a responder as tuas perguntas que não me
interessavam mais. Eu te olhava dos pés a cabeça, eu escutava o teu sotaque com
atenção, como não me lembrava? Tu havia se tornado totalmente estranho para
mim, como se em todos esses anos eu tivesse te recriado tantas vezes e tantas
outras que tu, simplesmente, deixaste de existir. E deixar de existir não seria
pior do que morrer? Sentimos falta dos mortos, temos dúvida de para onde eles
vão e até sentimos saudades, mas e o que não existe? Simplesmente não existe,
não é? Se não existe, é porque ninguém nunca o pensou e também é por que não há
nada. É triste, eu sei. Mas também não consigo sentir remorsos dessa vez. Eu
sinto uma pontinha de orgulho na verdade...
-Ficou louco? Perguntei
assustada quando tu interrompeste meus pensamentos tentando me beijar...
- Tu não sentes saudades? Não há um dia se quer que
eu não me lembre de nós dois... Vamos tentar novamente.
- Eu não quero! Pare com isso! Não quero... Simplesmente
não quero...
- Eu sei que quer...
- Eu não quero. Não quero e tu vais ter que aceitar. Completei já esboçando um sorriso sagaz e debochado... Nem um pinguinho de
vontade...
- Mentira!
- Eu estou curada, meu bem...
- Eu era uma doença por acaso?
- Mais do que só uma doença, era um câncer, mas estou
totalmente curada... Então fui sem conseguir
conter o sorriso abrir a porta para que tu pudesses sair de uma vez por todas
da minha vida.
3 comentários:
Estou alegre por encontrar blogs como o seu, ao ler algumas coisas,
reparei que tem aqui um bom blog, feito com carinho,
Posso dizer que gostei do que li e desde já quero dar-lhe os parabéns,
decerto que virei aqui mais vezes.
Sou António Batalha.
Que lhe deseja muitas felicidade e saúde em toda a sua casa.
PS.Se desejar visite O Peregrino E Servo, e se o desejar
siga, mas só se gostar, eu vou retribuir seguindo também o seu.
Como é bom quando a felicidade escorre pelos dedos! Tuas palavras sempre me fazendo tão bem.. Como é bom sentir-se curada, quisera eu..
Belíssimas palavras sempre!
Beijos*:
Escrever sobre a felicidade é deveras mais difícil, acho que a dor é mais poética. Vai entender. Entretanto esse texto ficou incrível, com um que de recomeço cujo eu me identifiquei por completo. Estou nessa fase, me livrei de quem me prendia e to feliz pra caramba, pronta pra amar de novo e me amando como nunca amei.
http://denovomaisumavez.blogspot.com.br/
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