"Nunca é alto o preço a pagar pelo privilegio de pertencer a si mesmo." Nietzsche

Insegurança ou algo assim...


“Mas é claro que o Sol vai voltar amanhã. Mais uma vez, eu sei...”
De onde vem esse medo menina? O que aconteceu com toda aquela sua segurança e certeza de si? Por favor, por todos, por Deus e por você: pare de pensar nessas coisas que te machucam! Pare de supor, de prever, de temer... Pare um minuto somente!
Pensar nisso não vai melhorar as coisas aí dentro, não vai mudar o que aconteceu. Você sabe muito bem disso, e sabe tão melhor que eu, que tenho até vontade de rir quando me lembro de suas políticas para que todos saibam respeitar e aceitar os passados dos outros. Pois, meu bem, só assim o pretérito imperfeito não compromete o presente, nem as pessoas...
Mas eu sei.. O Amor...
Eu sei... Eu sei que você acredita que só encontramos o amor verdadeiro uma vez na vida.
Eu sei de todas as suas teorias, flor. Eu sei dos seus planos, das suas fantasias. Eu sei exatamente quem você quer que esteja do seu lado para... - como é mesmo que você diz? - para sempre e em todas as vidas que você tiver!
Eu lhe entendo, menina... Entendo e continuo dizendo que não adianta você martirizar-se tanto por causa dessa certeza da incerteza. Tudo que você tem de melhor continua sendo os seus sonhos, a sua vontade de ter e proporcionar dias melhores. Então, continue lutando por isso. Mesmo que o seu medo seja o de ter que continuar sozinha um dia... Bem, pelo menos vai saber que tentou e foi feliz enquanto durou. E rezo, tanto quanto você, para que se eternize.
E sabe o que mais? Se eu fosse você eu mataria esse medo que quer lhe matar. Esse medo que tenta amputar seus sonhos e destruir seu final feliz. Mataria agora mesmo esse pequeno-grande-medo que escorre pelos olhos, vez por outra, e ainda permanece lhe cortando o peito como uma lâmina, sem pudor – enquanto o coração bate em um vácuo só.
E você só pede para não mais se assustar na hora de dormir
E pede para ter forças e sorrir novamente quando o sol vier...

(E ele sempre vem)

Dos verdadeiros heróis


imagem via internet

Naquele seu pranto, convulso, entre soluços dobrados e desesperadas puxadas de ar, enquanto as lágrimas escorriam de quatro em quatro... Ela me contava, apesar do sufoco, o quanto é perigoso ser uma sonhadora e porque não devemos depositar toda nossa confiança em alguém... Ela havia entendido que por melhor que seja uma pessoa, ela sempre vai nos decepcionar algum dia. Basta sabermos o grau de importância que esta pessoa tem para nós, para sabermos também, o tamanho da dor que iremos sentir por ela – quando isso acontecer, se acontecer.
Lembro-me de quando ela andava por aí se julgando tão forte e tão melhor que desprezava a possibilidade de ser atingida, gravemente, por simples palavras ou, até mesmo, pela falta delas. Esquecia-se que estava sujeita a ir parar a qualquer hora do dia, no seu quarto escuro, chorando na frente do espelho ou abafando o choro no travesseiro. E hoje, eu a vi assim: tão pequena e tão frágil - como uma criança contrariada, que só necessita de um abraço-apertado-de-urso e atenção.
Mas, tenho que admitir: a verdade é que ela é mesmo muito forte. Infelizmente, tombou feio dessa vez, quando lhe puxaram o tapete. Porém, de hoje em diante, ela estar preparada até pra sambar em cima dele, porque agora ela tem certeza que qualquer um pode puxá-lo. E tem aprendido a conserta-se cada vez mais rápido.
Ah, mesmo lamentando muito, ela me pediu para contar-lhes que, na verdade, não existem super-heróis. Ou, pelo menos, não são como nos desenhos animados. Eles nem sempre estarão ali para salvar a mocinha em perigo: pode ser que se atrasem ou, talvez, nem cheguem a tempo. Talvez, simplesmente, se esqueçam de que deveriam proteger alguém. Além de que ninguém irá puni-lo por isso. É que fora das estórias - do lado que moramos - ninguém tem obrigação de salvar ninguém. A única coisa que ainda levam as pessoas a isso, chama-se: Amor. (E nem todos o tem).
E quem não o tem?
           Acreditem: ela não se sentiu nem um pouco confortável ao me falar sobre isso. Até tenho a impressão de que a sua maior tristeza era justamente ter que seguir desacreditada quanto aos lindos contos e super-heróis. E ter que continuar sobrevivendo desse lado, onde todas as pessoas não passam de seres: amáveis, humanos e errôneos.
Por ela, essa descoberta também ficaria escondida no mais profundo de seu âmago, como todas as suas outras dores. Mas, prefere que estejamos preparados para sermos nossos próprios salva-vidas. Porque no final das contas, não há mais ninguém com quem possamos contar, o tempo todo, além de nós mesmos. E agora, em suas orações também pede para as pessoas tenham, além de cada vez mais amor, cada vez mais forças para enfrentarem seus dragões...

No final daquela noite, me lembrei daquela canção que ela sempre adorou ouvir e cantarolar, desde criança... Como se já soubesse que precisaria mesmo acreditar naquela canção pelo resto de sua vida. E como seu mais novo e único super-herói, apenas cantei baixinho, tentando acalmá-la até que dormisse...

“Ainda que vier, noites traiçoeiras
E a cruz pesada for... Cristo estará contigo.
O mundo pode até fazer você chorar
Mas Deus te quer sorrindo.”