"Nunca é alto o preço a pagar pelo privilegio de pertencer a si mesmo." Nietzsche

Podemos ser para sempre?


“Eu só aceito a condição de ter você só pra mim... Eu sei não é assim. Mas deixa eu fingir”

by Ingridd Lima
Um dia descobri que tudo o que eu tenho, todo o meu ouro e porto mais seguro, não passa de um barco. Um barco, apenas. Como todos os outros barcos: instáveis, frágeis, vulneráveis aos ventos - sejam eles fortes ou brandos. Balança: às vezes muito, às vezes enjoa. Ora estável, ora não. Agora eu sei que toda essa coisa de remar- às vezes acompanhada, às vezes sozinha - cansa. Machuca. Dói. Mas eu continuo lá e quero continuar lá, no meu barquinho, conquistado com tanto amor. Já decorado, idealizado. Já feito dele a minha própria vida. Cuidando e fazendo o melhor que posso para não naufragar. É nosso ouro, lembra? É meu porto seguro, minha própria vida que está ali. Mas, parece que o roteirista também se esqueceu disto. Ou esqueceu-se de fazer a próxima cena e nos deixou assim, a mercê de qualquer coisa. Com medo. Talvez por não sabermos o final. E o final, eu sei, muito me amedronta. Não sei me dar com finais. Acho que já até disse isso. Não gosto de finais. Nem tristes nem felizes. Não quero que tenha fim.  Prefiro que não tenha fim.  
Ah, eu não queria essa vontade de chorar. Eu queria um chocolate quente, pode ser meio amargo. Um abraço, pode ser bem apertado. Queria um sorriso, pode ser de felicidade por estarmos juntos? Hoje eu queria você aqui, mais do que tudo, pode ser pra sempre? Você pode ficar pra sempre? Cadê o roteirista? Não me deixe remar sozinha. Por favor, não me deixe remar sozinha. Sozinha eu não tenho forças. Por favor. Escuta: o barquinho é pequeno, mas dá pra nós dois. Ele foi feito pra nós dois. Veze quando, eu sei que ventos mal intencionados causam-nos náuseas, mas eu estou fazendo o melhor que posso. Por nós, pelo nosso amor. Eu quero ser o melhor de mim, acredita. Sabe, essa noite me doeu bastante pensar que eu posso não ser o melhor pra você, apesar de tudo... Eu estou tentando tanto. Queria que você soubesse. Eu nem sei o que fazer quando pensar em ficar sem você. Eu queria ser mais do que sou, mas não posso. Eu simplesmente não consigo ser mais do que eu. E sabe, eu queria muito que você também simpatizasse com esse nosso barquinho o quanto eu simpatizo e apesar de precisar muito de você e pedir incansável que não me deixe sozinha, por favor, saiba que também pode ir quando não quiser mais:
Eu entenderei se houver alguém. Alguém que consiga ser perfeita. Alguém que não lhe chateie, não lhe dê motivos para isso. Alguém, talvez, mais velha que eu. Alguém que possa ir aos shows com você, ao invés de lamentar-se. Alguém com quem você ache bom conversar, se abrir, contar tudo que sente. Alguém que você possa ver quando quiser. Alguém que cante também, “que dê tão certo com você”. Alguém que lhe faça bem. Alguém que não seja mais criança, que não ria tanto por besteiras. Alguém que você ame sem esforços, que lhe inspire textos bonitos, musica bonitas. Alguém pra quem você queira viver... Alguém que lhe faça continuar sorrindo. “Alguém que você queira, espere, se entregue...” Alguém que não lhe deixe dúvidas, insegurança. Alguém... Alguém que está longe de ser eu...
Não que eu não esteja tentando. Não que eu não queira. Eu não consigo. Era tudo que eu mais queria. Você deveria saber. Tudo que eu preciso é que fiquemos bem. Que fiquemos bem para sempre.  Porque, meu amor, eu não estou interessada no resto do mundo. Ele pode até desabar. Eu tenho meu próprio mundo e meu próprio mundo é você. Mas, veja agora. Estou com medo. Estou com muito medo. Nada acontece como eu queria e eu me perco o tempo todo. Eu só queria ser o seu amor. Eu só queria desfazer-me dessa insegurança de ser completamente sua. “Você me ajuda a ficarmos bem?” – foi a única coisa que saiu em meio a essa overdose de medo. “Tá”. Como um ponto final. Tá. Eu não sei o que você sente agora, mas eu queria ser o seu amor. O seu amor pra sempre.
“Podemos ser para sempre?” O barquinho só existe se formos nós dois.

Acordar-se para dentro

imagem via web

De onde tu tiras essas palavras? Você me perguntava tantas vezes com aquele tom de admiração que eu amava. Tu ficas estudando o dicionário é? Dizia para não perder a piada. Dizia por saber que era fácil me fazer sorrir e me fazer sorrir era tudo que você mais gostava de fazer. Fitava-me de um jeito apenas seu - como quem se apaixonava toda vez que olha-me novamente. Sabíamos, digo: ele e eu, que aquelas palavras das quais eu fazia uso veze quando, não faziam de mim mais inteligente que os outros, mas mesmo assim... Acho que era, então, a forma como perguntava-me. Sempre havia outro jeito de fazer-me sentir melhor do que eu era. Mas, de repente, ou talvez, antes mesmo desse derrepente percebido por mim, toda essa coisa tangível papável segura, tornou-se também insípida insossa neutra tanto faz. E é exatamente esse tanto faz o endereço do medo. Medo de mim. Dos outros por mim. De eu por mim. Assim, como o leite materno só tem gosto para os bebês que ainda não conhecem o doce e o salgado, assim, como sem conhecê-los deliciam-se apenas com o neutro, eu apreciei aquele você e eu. 
Agora, tudo perdeu o sentido. Como quando acaba-se de acordar de um sonho bom e o sentido do sonho é indecifrável, pois a verdade do sonho se perdeu quando se acordou e deixou de ser bonito ou tornou-se bonito por não saber decodifica-lo, como uma música estrangeira que faz chorar por causa da melodia e não da letra - a letra não faz sentido algum...
Então eu acordei desse sonho e percebi que havia me esquecido de algumas partes dele e, portanto, não sei dizer com o que sonhei. A verdade se perdera com algumas partes desse sonho. Ainda meio desacordada, tive a certeza que quando as coisas tornam-se insossas, é hora de colorir-se, aventurar-se, sonhar para dentro e para fora.
Acabo de acordar assustada com o despertador. 5h40 am. Foi isso mesmo que eu sonhei em para mim? Tanto faz.