"Nunca é alto o preço a pagar pelo privilegio de pertencer a si mesmo." Nietzsche

Quem cuida de quem?

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Olhe para essa moça, olhe para essa moça e tente ajudar. Ajude-a porque ela ensina o caminho certo para todo mundo, mas não sabe seguir o dela. Ela se perdeu outra vez e não sabe como sair desse labirinto em que se meteu. Seus sentimentos sempre complexos e intensos as vezes sufoca alguém ou a ela mesmo. As vezes ela acha que as coisas boas que faz pelo mundo é apenas para compensar os erros de seu coração doente e egoísta. Mas, às vezes, só as vezes, ela acha que pode acertar as batidas do seu coração com o de alguém, muito embora o seu tempo seja sempre outro. Muito embora todas as histórias sigam terminando em tragédias. Por mais que ela almeje escrever uma comedia romântica, leve e engraçada... A única coisa que escorrega pelos de seus dedos são cenas de uma autobiográfica fodida e dramática, farta de histórias sem final feliz.
Olhe para essa moça, olhe para essa moça e tente ajudar. Ajude-a porque suas forças estão se acabando e ela já não sabe mais por quanto tempo vai suportar permanecer em pé e sorrindo e fingindo que sabe muito bem o que está fazendo. Ela já se fez ponte sobre aguas turbulentas tantas vezes que não sabe mais o que sua estrutura ainda aguenta. Ela já enfiou tanta coisa dentro daquela mala esquecida em um canto, em um quarto qualquer que ela tem receio de abrir e não conseguir organizar nunca mais a bagunça que vai explodir lá de dentro bem em cima dela e de quem estiver perto. Já faz algum tempo que ela só sente medo.
Olhe para essa moça, olhe para essa moça e tente ajudar. Ajude-a porque já faz um tempo que seu sorriso tem sido desmascarado. Não será a primeira vez e nem a última que alguém a diz que ela está fazendo isso errado. Não será a primeira vez que alguém a manda se cuidar e pensar um pouco nela. Mas, será mesmo que é ela quem precisa se cuidar? Ou será que as pessoas que precisam cuidar dela? Ou será que as pessoas só precisam se cuidarem dela? Quem sabe, se as pessoas se cuidassem mais, ela não teria que cuidar de ninguém e agora ela seria inteira. E talvez, só talvez, ela não estivesse precisando de ajuda e quem sabe até saberia que caminho seguir.  


Vento no litoral - Renato Russo e Cássia Eller