"Nunca é alto o preço a pagar pelo privilegio de pertencer a si mesmo." Nietzsche

Olhos nos olhos... Eu ri


imagem via google

 Sempre. S e m p r e que eu desejo escrever sobre alguma coisa boa, muito boa, as palavras simplesmente me fogem. Porque será que a tristeza consegue escorrer pelos meus dedos e a felicidade não? Seria ser feliz algo mais indescritível do que ser triste? Não importa. Hoje eu vou escrever sobre essa alegria que invade meu coração, com palavras certas ou palavras tortas. Eu vou escrever sobre como é bom me pegar sorrindo e cantarolando sozinha depois de tanto tempo.
 É tão bom ter a certeza de que eu sou minha, só minha e não de quem quiser. É bom ter a certeza de que verei suas fotos ou as nossas fotos e não sentirei vontade de escrever sobre a dor que me causaste. É tão bom saber que posso me vestir com a tua camisa quantas vezes eu quiser e não vou mais sentir teu cheiro. Agora eu sei que posso me esbarrar contigo ou até mesmo ficarmos a sós... Eu não vou mais ter medo de mim.
Tantos anos se passaram. Tantas cartas não foram entregues: cartas e cadernos inteiros... Quantas fotos e textos escondidos para que eu não tivesse recaídas. Tantos porres e cigarros, tantos sonos perdidos e tantos sóis eu vi nascer pensando onde tu estavas. Tantas ligações recusadas, tanto medo de te encarar, tantas tentativas de te fazer parar em vão. Tanta vida sem ser vida... Ah, se eu soubesse... Não teria fugido tanto, não teria me maquiado tanto para esconder um sentimento que não mais existia.
Foi quando hoje eu tive a coragem. Hoje eu tive a coragem de te chamar, a coragem de te atender. Eu tive a coragem de te abrir as portas e de te ouvir. Hoje eu quis mais do que tudo saber como eu me sentiria. Hoje eu não tive medo de me machucar. Hoje eu quis olhar nos teus olhos novamente, quis sentir meu coração acelerado como tu costumava o deixar antes, quis saber das borboletas no estômago, quis saber se ainda haveria dor na barriga...
 A casa ainda cheirava a bebida e cigarro, vestígios da vida desregrada que tu me deixaste como opção. Havia poucos móveis, quase nenhuma bagunça. O banho rápido, os dedos como pedras de gelo, o coração quase saindo pela boca e as pernas quase não se movendo de tão bambas. O interfone tocou, hesitei por alguns segundos, mas disse o que precisava ser dito “pode subir”.
Tu chegaste e tinha o mesmo semblante de sempre, só que desta vez, envergonhado, o que é raro de se observar em ti. Engraçado, não consegui achar o teu sorriso bonito como antes. E o que foi aquela tentativa de abraço? Desculpe, eu tive que rir. Tentei buscar nas minhas lembranças, qualquer coisa que te fizesse sentir mais a vontade... Foi nessa hora que eu me dei conta de que não havia mais nenhum dos pedaços que tu deixaste dentro de mim. Também não me lembro de quando consegui tirar tudo, mas agora eu sei que os tirei. E mais do que isso, eu não sei onde os coloquei...
Fiquei ali ouvindo as tuas histórias e me negando a responder as tuas perguntas que não me interessavam mais. Eu te olhava dos pés a cabeça, eu escutava o teu sotaque com atenção, como não me lembrava? Tu havia se tornado totalmente estranho para mim, como se em todos esses anos eu tivesse te recriado tantas vezes e tantas outras que tu, simplesmente, deixaste de existir. E deixar de existir não seria pior do que morrer? Sentimos falta dos mortos, temos dúvida de para onde eles vão e até sentimos saudades, mas e o que não existe? Simplesmente não existe, não é? Se não existe, é porque ninguém nunca o pensou e também é por que não há nada. É triste, eu sei. Mas também não consigo sentir remorsos dessa vez. Eu sinto uma pontinha de orgulho na verdade...
                 -Ficou louco? Perguntei assustada quando tu interrompeste meus pensamentos tentando me beijar...
                - Tu não sentes saudades? Não há um dia se quer que eu não me lembre de nós dois... Vamos tentar novamente.
                - Eu não quero! Pare com isso! Não quero... Simplesmente não quero...
                - Eu sei que quer...
               - Eu não quero. Não quero e tu vais ter que aceitar. Completei já esboçando um sorriso sagaz e debochado... Nem um pinguinho de vontade...
                - Mentira!
                - Eu estou curada, meu bem...
                - Eu era uma doença por acaso?
           - Mais do que só uma doença, era um câncer, mas estou totalmente curada... Então fui sem conseguir conter o sorriso abrir a porta para que tu pudesses sair de uma vez por todas da minha vida.


3 comentários:

António Je. Batalha disse...

Estou alegre por encontrar blogs como o seu, ao ler algumas coisas,
reparei que tem aqui um bom blog, feito com carinho,
Posso dizer que gostei do que li e desde já quero dar-lhe os parabéns,
decerto que virei aqui mais vezes.
Sou António Batalha.
Que lhe deseja muitas felicidade e saúde em toda a sua casa.
PS.Se desejar visite O Peregrino E Servo, e se o desejar
siga, mas só se gostar, eu vou retribuir seguindo também o seu.

T.S. disse...

Como é bom quando a felicidade escorre pelos dedos! Tuas palavras sempre me fazendo tão bem.. Como é bom sentir-se curada, quisera eu..

Belíssimas palavras sempre!
Beijos*:

Gabriela Freitas disse...

Escrever sobre a felicidade é deveras mais difícil, acho que a dor é mais poética. Vai entender. Entretanto esse texto ficou incrível, com um que de recomeço cujo eu me identifiquei por completo. Estou nessa fase, me livrei de quem me prendia e to feliz pra caramba, pronta pra amar de novo e me amando como nunca amei.

http://denovomaisumavez.blogspot.com.br/