"Nunca é alto o preço a pagar pelo privilegio de pertencer a si mesmo." Nietzsche

Poema de vida



imagem via google

Uma vida de composições que não encontra notas para reproduzir
Uma vida de notas que não sabe mais tocar
Uma mesma vida de receitas inventadas e esquecidas para sempre
Uma vida a procura de outra vida para se revitalizar
Uma vida que não sabe passar, mas nunca mais quis ficar
Uma vida com medo de viver
Uma vida que, assim, não daria meia vida
Uma vida, portanto, abrindo a porta da sua caverna para a vida se propagar
Tanta vida não caberia em apenas uma               
Esta vida almeja então serem duas
Bem sucedidas por serem uma só

Enfim, quero assumir minha solidão.

Qual o segredo da felicidade?
Será preciso ficar só pra se viver?
As rugas no meu rosto me mostram que não posso mais seguir o meu coração como antes; o meu coração cheio de cicatrizes e algumas feridas entreabertas falam-me que não posso mais ser egoísta ao ponto de não pensar em mim. Por muito tempo eu andei por aí deixando minhas ressalvas de lado e me jogando de corpo e alma nos oceanos de quem me convidasse com voz sutil e palavras doces, por muito tempo eu quase afoguei a mim mesma por achar que meu passado não fazia parte de mim, por achar que minhas frustações e meus “se” não eram parte de mim, por achar que eu sabia demais quase me afoguei.
Mas agora eu não quero mais ser essa tempestade de sentimento, de razão e de vontade. Eu quero ser novamente minha, eu preciso ser minha. Ao menos uma vez na vida eu preciso não pensar nos outros, não me apegar, não me preocupar. Eu quero acolher meus medos e quero, pela primeira vez na vida, sentir minhas dores verdadeiramente. Quero pela primeira vez chorar todas as minhas decepções e lamentar os meus “se” que nunca mais acontecerão. Eu quero desejar ter ao meu lado quem não me merece sem culpa. Eu preciso assumir minhas fraquezas, minhas incontáveis inseguranças e pedir colo ao invés de doar o meu. Eu quero finalmente ser calmaria.
Não quero mais ser responsável pelos sentimentos alheios. Não quero mais loucas paixões, nem paixões com finais previsíveis. Não quero mais noites desregradas e vida desregrada, assim como também não quero mais regras, não quero mais satisfação para dar nem receber. Não quero mais estar acompanhada de segundas intenções, eu prefiro viver só. Não quero mais me desviar de beijos roubados, nem ter que ser educada para não magoar quem não sabe respeitar o meu momento.
Agora eu só quero organizar meus livros na estante, terminar minhas poesias, reler as cartas e rever as fotos quantas vezes forem necessário para que eu possa me lembrar de tudo sem nenhuma dor. Vou arrumar a minha bagunça verdadeiramente dessa vez, sem precisar colocar a poeira embaixo do tapete às pressas. Pela primeira vez eu vou respeitar o meu momento sem me importar com ninguém além de mim: estou jogando meu medo de ficar só pela janela e dessa vez, só dessa vez, eu vou apenas me pertencer.

a via láctea - Legião