"Nunca é alto o preço a pagar pelo privilegio de pertencer a si mesmo." Nietzsche

Enfim, quero assumir minha solidão.

Qual o segredo da felicidade?
Será preciso ficar só pra se viver?
As rugas no meu rosto me mostram que não posso mais seguir o meu coração como antes; o meu coração cheio de cicatrizes e algumas feridas entreabertas falam-me que não posso mais ser egoísta ao ponto de não pensar em mim. Por muito tempo eu andei por aí deixando minhas ressalvas de lado e me jogando de corpo e alma nos oceanos de quem me convidasse com voz sutil e palavras doces, por muito tempo eu quase afoguei a mim mesma por achar que meu passado não fazia parte de mim, por achar que minhas frustações e meus “se” não eram parte de mim, por achar que eu sabia demais quase me afoguei.
Mas agora eu não quero mais ser essa tempestade de sentimento, de razão e de vontade. Eu quero ser novamente minha, eu preciso ser minha. Ao menos uma vez na vida eu preciso não pensar nos outros, não me apegar, não me preocupar. Eu quero acolher meus medos e quero, pela primeira vez na vida, sentir minhas dores verdadeiramente. Quero pela primeira vez chorar todas as minhas decepções e lamentar os meus “se” que nunca mais acontecerão. Eu quero desejar ter ao meu lado quem não me merece sem culpa. Eu preciso assumir minhas fraquezas, minhas incontáveis inseguranças e pedir colo ao invés de doar o meu. Eu quero finalmente ser calmaria.
Não quero mais ser responsável pelos sentimentos alheios. Não quero mais loucas paixões, nem paixões com finais previsíveis. Não quero mais noites desregradas e vida desregrada, assim como também não quero mais regras, não quero mais satisfação para dar nem receber. Não quero mais estar acompanhada de segundas intenções, eu prefiro viver só. Não quero mais me desviar de beijos roubados, nem ter que ser educada para não magoar quem não sabe respeitar o meu momento.
Agora eu só quero organizar meus livros na estante, terminar minhas poesias, reler as cartas e rever as fotos quantas vezes forem necessário para que eu possa me lembrar de tudo sem nenhuma dor. Vou arrumar a minha bagunça verdadeiramente dessa vez, sem precisar colocar a poeira embaixo do tapete às pressas. Pela primeira vez eu vou respeitar o meu momento sem me importar com ninguém além de mim: estou jogando meu medo de ficar só pela janela e dessa vez, só dessa vez, eu vou apenas me pertencer.

a via láctea - Legião

5 comentários:

Viviana Ruiz disse...

Que fofo este texto. Me fez refletir sobre mim mesma. Nossa! Eu tenho tanto medo de ficar só, mas o bom é saber que não estou só neste pavor da solidão. Quantas vezes já tentei me pertencer e agora nem me reconheço? Ah, acho que vou seguir esta sua dica.
mil bjous

Ariana Coimbra disse...

Intenso, forte e descreve o que eu preciso fazer. Eu vivo a minha dor mas me preocupo muito com os outros.
E quanto a essa música é perfeita.
Te indico "livros dos dias" Legião também.


Beijos

Brunno Lopez disse...

A companhia mais verdadeira e absolutamente necessária é sempre a nossa. Apenas com o devido controle e amor da própria existência é possível abraçar outra pessoa, flertar com possíveis relacionamentos e futuras emoções.

Belo discurso, belos caminhos.

T.S. disse...

E foi assim que aprendi que antes de qualquer coisa preciso "me pertencer" e somente a mim por um longo tempo.

É incrível como tuas palavras sempre dão um jeito de se transformarem em meus sentimentos, Indy!
Beijos*:

Anônimo disse...

Nossa! Você escreve muito bem, nada melhor para finalizar um lindo texto com música do Legião Urbana <3

http://www.paraisoinexistente.blogspot.com.br/