Qual o segredo da felicidade?
Será preciso ficar só pra se viver?
As rugas no
meu rosto me mostram que não posso mais seguir o meu coração como antes; o meu
coração cheio de cicatrizes e algumas feridas entreabertas falam-me que não
posso mais ser egoísta ao ponto de não pensar em mim. Por muito tempo eu andei
por aí deixando minhas ressalvas de lado e me jogando de corpo e alma nos
oceanos de quem me convidasse com voz sutil e palavras doces, por muito tempo
eu quase afoguei a mim mesma por achar que meu passado não fazia parte de mim,
por achar que minhas frustações e meus “se” não eram parte de mim, por achar
que eu sabia demais quase me afoguei.
Mas agora
eu não quero mais ser essa tempestade de sentimento, de razão e de vontade. Eu
quero ser novamente minha, eu preciso ser minha. Ao menos uma vez na vida eu
preciso não pensar nos outros, não me apegar, não me preocupar. Eu quero
acolher meus medos e quero, pela primeira vez na vida, sentir minhas dores
verdadeiramente. Quero pela primeira vez chorar todas as minhas decepções e
lamentar os meus “se” que nunca mais acontecerão. Eu quero desejar ter ao meu
lado quem não me merece sem culpa. Eu preciso assumir minhas fraquezas, minhas incontáveis
inseguranças e pedir colo ao invés de doar o meu. Eu quero finalmente ser
calmaria.
Não quero
mais ser responsável pelos sentimentos alheios. Não quero mais loucas paixões,
nem paixões com finais previsíveis. Não quero mais noites desregradas e vida
desregrada, assim como também não quero mais regras, não quero mais satisfação
para dar nem receber. Não quero mais estar acompanhada de segundas intenções,
eu prefiro viver só. Não quero mais me desviar de beijos roubados, nem ter que ser
educada para não magoar quem não sabe respeitar o meu momento.
Agora eu só
quero organizar meus livros na estante, terminar minhas poesias, reler as
cartas e rever as fotos quantas vezes forem necessário para que eu possa me
lembrar de tudo sem nenhuma dor. Vou arrumar a minha bagunça verdadeiramente
dessa vez, sem precisar colocar a poeira embaixo do tapete às pressas. Pela
primeira vez eu vou respeitar o meu momento sem me importar com ninguém além de
mim: estou jogando meu medo de ficar só pela janela e dessa vez, só dessa vez,
eu vou apenas me pertencer.